quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A busca é o Graal digital?

Os buscadores nos trouxeram a possibilidade de explorar uma nova “inteligência natural”.
As fusões, aquisições e/ou acordos como o recentemente ocorrido entre Microsoft e Yahoo ou ainda o aparecimento de serviços como o Wave, o Bing e o intenso volume de soluções nos sistemas de busca são movimentos interessantes para a gente analisar partindo da lógica do consumidor digital 2.0.

Evidentemente esses fatos têm objetivos de negócios, mas há também, nessa pauta, o comportamento do consumidor que determina esses movimentos. Somos, afinal, sujeitos que desenhamos e redesenhamos como consumimos informação, como desejamos fazer a partilha de nosso dado privado com o espaço público e, enfim, vamos levando empresas com foco digital a buscar maneiras de ganhar nossa atenção e, consequentemente, melhorar seu modelo de negócio de forma mais inovadora.

Nessa linha é muito interessante observar o posicionamento do Facebook há poucos meses analisado em matéria da Wired como o verdadeiro grande modelo de buscador para o futuro. Ou pelo menos é o que eles imaginam ser numa queda de braço que se daria com o Google. Isso sem desprezar o esforço interessante e que ganha fôlego da já chamada “Microhoo” (Microsoft e Yahoo).

No entanto, o que atrai a minha atenção é o conceito de busca que prevalecerá. Estamos acostumados à indexação do Google, seus algoritmos secretos sempre mais e mais potencializados. Mas o fato é que a tendência do consumidor é, evidentemente, buscar pela experiência do outro para corroborar a sua. Tenho chamado isso de “inteligência natural”: uma espécie de potencialização das buscas pelo intenso cruzamento de dados, num gigantesco jogo de perguntas e respostas baseado em depoimentos postados na rede com o simples - e inestimável - desejo de ajudar alguém em sua dúvida. Ainda que nunca se saiba a quem se ajudou. Seria, no final das contas, dividir uma sabedoria que tem sua origem lá nas práticas da Idade da Pedra quando um homem já observava o outro para entender o que fazer por si mesmo.

A gente já ouviu falar muito dessa questão dos testemunhais e de sua importância. Mas a mídia social nos traz uma exacerbação desse contexto. A intensa produção de conteúdo privado nos leva a compartilhar experiências de maneira exponencial. Afinal, o volume de blogs e perfis nas redes sociais cresce diariamente e exige dos conectados uma produção de “pautas” rotineiras e permanentes para seus espaços virtuais.

São os andarilhos digitais com seus temas particulares tornados bens públicos. A necessidade criada para manter os perfis atualizados joga na rede depoimentos sobre produtos, serviços ou simplesmente dicas de como limpar aquela roupa de couro manchada por tinta. Essa exacerbação da partilha da experiência é um Eldorado para os sistemas de buscas e nele, certamente, reside o caminho para os que vão se sobressair (ou manter o seu feudo) nesse excepcional tipo de serviço da web que, junto com o email, efetivamente é uma das grandes invenções dos últimos 200 anos.

Indo um pouco além, fico imaginando que é preciso refletir sobre esse vai e vem de dramas e comédias da vida privada convivendo em uma matriz cruzada com a natural diferença de conhecimento, de teorias próprias e de verdades relativas e absolutas que pautam os conteúdos colaborativos. E nem vou colocar nessa conta os zilhões de temas postados de forma maliciosa para enganar desavisados. E é nesse ponto que o intenso trabalho dos sistemas de buscas pode também fazer a diferença para ajudar nossas pesquisas e nossas vidas. O quanto eles seriam (ou são) capazes de nos trazer preferencialmente as informações mais “verdadeiras”? E, nesse sentido, serão capazes de classificar esse “verdadeiro” por algum sistema mais automatizado do que a própria classificação feita pelo usuário de forma colaborativa (caso do Yahoo Repostas, por exemplo)? Essa é uma responsabilidade e tanto porque a cada dia mais transferimos para eles (os buscadores) essa responsabilidade de filtrar nossa primeira escolha. Até porque o alto volume torna limitada nossa capacidade de análise.

Um exemplo bom eu mesma vivi esta semana. Sou prisioneira de ácaros com 3 cruzes de alergia comprovada. Como sabemos, os ácaros, junto com os computadores, o Paulo Coelho e as baratas, já dominaram o mundo. Logo, o estado alérgico é o meu estado natural dado que, além de oxigênio, respiramos também ácaros em profusão. Ou seja, eu respiro o inimigo. Com isto também sou naturalmente refém de uma sinusite. Tratamentos alérgicos de todos os tipos eu já fiz e outro dia lembrei que já tinha ouvido falar dos efeitos milagrosos de um remédio fitoterápico chamado óleo de cabacinha ou de buxinha do norte. Uma gota em cada narina e - pow - fim da sinusite. Um processo purgativo intenso provocado pelo remédio garante essa cura.

Obviamente fui consultar o doutor Google (perigo, como sabem, pois a automedicação aumentou horrores com a chegada do Google e, certamente, tornou infernal a vida dos médicos). Mas, enfim, eu estava consultando para “colocar contra a parede” a minha otorrino no quesito sinusite x buxinha do norte. Resultado: milhares de depoimentos com relatos de cura total e uma pesquisa em que a autora garante que o tal remédio é na verdade muito agressivo para a estrutura da mucosa e, no final de contas, não aconselhava nada o uso. E agora?

Claro que não usei o remédio ainda, mas vou com estes posicionamentos de contra e a favor impressos para dialogar com o diploma da minha médica. O que tornaria a vida dela e a minha mais fácil seria obviamente a classificação mais qualificada dessas informações, como me referi antes. Bons conteúdos nos ajudam a tomar boas decisões. Mas também não podemos esquecer que a experiência do outro talvez não valha sempre para a gente (especialmente em casos médicos, mas nos casos mais commodities... sim, com certeza valem).

Fica o exemplo para a gente refletir sobre o impacto dessa prática digital de buscar pela partilha da experiência alheia - nessa amplitude que temos hoje - e que tanto mudou nosso patamar de conhecimento. Além, é claro, de ter mudado muito os tons de diálogos com nossos médicos, coitados. O Dr. Google e seus concorrentes como Yahoo e Bing nos trouxeram a possibilidade de explorar a “inteligência natural” (a experiência e relato da vida como ela acontece) e isso é um bem para nossa sabedoria de um lado e, de outro, um patrimônio para determinar fim e sucesso nos negócios. Vamos observar esses movimentos e entender se a qualidade da rede a que se propõe o Facebook,na citada matéria, será mesmo o “graal” dessa história.


Fonte: IDGNow

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