quarta-feira, 26 de maio de 2010

Pesquisa inédita mostra que e-book é irreversível

Para 5% dos entrevistados, os distribuidores ficarão fora do mercado de e-books, mas 68% acreditam que continuarão tendo participação expressiva, adaptando-se à nova modalidade.

A totalidade das editoras consultadas em pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) considera ser o e-book um meio adequado para a comercialização de conteúdos. No entanto, sua participação no mercado ainda é incipiente, pois somente 2% das empresas o adotam para a oferta de volume razoável de títulos (entre 30% e 50% do catálogo). Setenta por cento sequer iniciaram a implantação do processo e a grande maioria dos que já o utilizam tem menos de 10% de suas obras disponíveis na nova mídia.

Há, na própria enquete, explicações plausíveis sobre o porquê dessa baixa adesão. Para a plena disseminação do livro digital, os editores consideram necessário solucionar os seguintes obstáculos, por ordem de importância: digitação de fundos editoriais; gestão de direitos digitais; disponibilidade ainda baixa de dispositivos e-readers que facilitem a leitura; os hábitos dos consumidores quanto às obras impressas; e a integração do canal de distribuição com o de papelarias.

Os empresários acreditam, porém, na solução dessas questões e já indicam, na própria pesquisa da CBL, como vislumbram os sistemas de comercialização do e-book. Trinta e seis por cento optam pela venda direta e 25%, por plataformas de gerenciamento de direitos digitais (DRM, do inglês Digital Rights Management). O restante dos entrevistados ainda não têm posição firmada. Quanto aos canais de comercialização, 18% definem-se por seus próprios sites na Internet, enquanto 7% indicam a utilização de ferramentas de terceiros e outros 7%, a combinação das duas modalidades.

Para 5% dos entrevistados, os distribuidores ficarão fora do mercado de e-books, mas 68% acreditam que continuarão tendo participação expressiva, adaptando-se à nova modalidade. Vinte e três por cento creem que as livrarias solicitarão diretamente às editoras, projetos específicos para a venda.

É interessante notar como os próprios editores analisam a transformação do mercado após o advento do e-book. Para 45% deles, o negócio de suas empresas deve ser adaptado de modo que elas se transformem em habilitadoras ou facilitadoras dos conteúdos. Vinte por cento preconizam apenas a adequação dos conteúdos, mas com a manutenção do seu controle por parte da editora. No tocante ao impacto nas livrarias, 35% acreditam que elas serão praticamente iguais no futuro. Quarenta e três por cento acham que serão voltadas ao comércio eletrônico e 23% pensam que sequer existirão como as conhecemos atualmente.

As editoras entrevistadas participaram do 1º Congresso Internacional do Livro Digital, recentemente realizado pela CBL, na capital paulista, e se incluem entre as mais de 300 que terão estandes na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, também promovida pela entidade, de 12 a 22 de agosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Neste evento — o momento do livro no Brasil! —, as tendências do mercado delineiam-se de maneira mais clara.

O que deverá ficar cada vez mais nítido quanto ao e-book, conforme se pôde aferir na pesquisa, é que se trata de tendência irreversível. Surgirá um consistente mercado de equipamentos de leitores eletrônicos, que cativarão parte dos consumidores. Isto, entretanto, não significará o fim do livro impresso, cujo encanto, praticidade e caráter lúdico continuarão determinando a preferência de bilhões de pessoas. Saber explorar a convergências de mídias significa multiplicar as possibilidades mercadológicas, criar novas alternativas e atender de maneira mais eficaz à demanda. Cabe ao setor livreiro aproveitar tais possibilidades, desenvolvendo uma vertente mercadológica promissora e capaz de contribuir para o aumento do número de leitores.

Obviamente, como também se observa nas respostas dos editores, será necessário um novo ordenamento dos direitos autorais. Sem tal providência, a ser normalizada internacionalmente, ficará difícil desenvolver e consolidar o mercado do e-book. Segurança quanto à autenticidade e legalidade dos conteúdos também será fundamental, pois a digitalização de conteúdos editoriais, mesmo sob a tutela de direitos legais, suscitará facilidades para a reprodução ilegal, como se vê nos CDs e DVDs, ampliando a ameaça de falsificação muito além das máquinas copiadoras, que há muito afrontam o mercado. As dificuldades e problemas a serem superados, contudo, não devem impedir o avanço da tecnologia. É preciso conviver com as transformações, adaptar-se a elas e as converter em real oportunidade.

Rosely Boschini - é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Fonte: Admnistradores

Nenhum comentário:

Postar um comentário