Reconhecemos as limitações do ranking mundial de universidades, mas o tempo em que a reputação era negociada está com os dias contados
Phil Baty
O lançamento da edição anual do Ranking Mundial de Universidades publicado pela Times Higher Education se transformou em um evento de interesse global para o setor de ensino superior. As tabelas de desempenho fornecem dados comparativos úteis que podem auxiliar estudantes na hora de escolher cursos de graduação, na decisão sobre a escolha da carreira acadêmica ou das parcerias de pesquisa, além de orientar os gestores de universidades na definição de prioridades estratégicas.
Ao mesmo tempo, como diz o escritor americano Ben Wildavsky em seu livro The Great Race - How global universities are reshaping the world ( "A Grande Corrida - Como as universidades globais estão remodelando o mundo"), os rankings mundiais "juntaram desprezo e influência em medidas quase iguais". Países com longa tradição de ensino superior de excelência diversas vezes ficaram chocados com os resultados e classificaram os rankings como injustos, tendenciosos ou irrelevantes. Outros criticaram os rankings de universidades como uma tarefa impossível, porque não é possível reduzir centenas de instituições complexas a um simples conjunto de números.
A revista Times Higher Education reconhece as limitações do ranking mundial de universidades, mas a lista divulgada este ano com as 200 melhores universidades do mundo é diferente. Desenvolvemos uma metodologia mais nova e rigorosa, trabalhada ao longo de dez meses com a ajuda e contribuição de mais de 50 especialistas de todo o mundo, além de consulta aberta e permanente aos leitores no nosso site. Em um trabalho de estreita colaboração com nosso fornecedor de dados estatísticos, a Thomson Reuters, a nova metodologia utiliza 13 indicadores separados de desempenho, que analisam as três principais áreas da missão da universidade - ensino, pesquisa e extensão.
Devido à mudança na metodologia, qualquer movimento para cima ou para baixo desde 2009 não pode ser visto como uma mudança no desempenho de um indivíduo, país ou instituição. Afirmamos, no entanto, que estas tabelas são realistas, e assim, em alguns casos, podem significar um alerta desagradável para o fato de que o tempo em que a reputação era negociada está com os dias contados.
Embora o Brasil não tenha instituições entre as 200 top no mundo, a Universidade de São Paulo só perdeu o lugar por uma pequena margem. Infelizmente, não realizamos rankings de instituições abaixo das 200 melhores, mas nosso aplicativo para iPhone ( www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings ) inclui dados de 400 instituições, o que mostra que a Universidade Estadual de Campinas também tem potencial para figurar entre as top mundiais, como acontece com a USP.
Infelizmente, existem alguns obstáculos a serem superados antes de as instituições latino-americanas entrarem no universo das 200 melhores. Como disse recentemente o diretor do Centro Internacional de Ensino Superior de Boston, nos EUA, Philip Altbach, em entrevista à Times Higher Education: "Os principais concorrentes são as grandes universidades públicas do continente americano, como a Universidade de Buenos Aires. Estas são, no entanto, confrontadas por estruturas governamentais pesadas, burocráticas e, às vezes, politizadas. Elas se baseiam principalmente em cursos de meio período - e essa modalidade não pode ser a base de uma universidade com foco em pesquisa. Elas também são subsidiadas e a maioria não pode cobrar mensalidades de seus alunos".
Mas existem, sem dúvida, pontos positivos, diz ele. "Talvez só no Estado de São Paulo existam universidades desse nível. Suas duas principais universidades contam com docentes em tempo integral com título de doutorado, e as universidades têm um objetivo de pesquisa significativo, além do financiamento adequado por parte do Estado".
Em um ponto mais positivo, o Brasil possui uma reputação crescente em pesquisa, graças à sua excelência no campo da medicina tropical, por exemplo. Nossos especialistas em pesquisa relatam que o Brasil produz 19% do total da pesquisa mundial em medicina tropical e 12% do total da pesquisa em parasitologia, e sua força nas ciências da vida está ficando cada vez mais conhecida.
O Relatório de Pesquisa Global (Global Research Report) sobre o Brasil realizado pela Thomson Reuters identifica-o como uma força dominante em um novo bloco de "Tigres latinos" - incluindo México e Argentina. O relatório afirma que a fatia latino-americana dos artigos científicos mundiais passou de 1,7% em 1990 para 4,8% em 2008. Em 1981, cerca de dois mil periódicos tinham um endereço de autor no Brasil. Em 2008, o número era de cerca de 20 mil.
"A característica mais marcante da nova geografia da ciência é a guinada absoluta dos investimentos e de mobilização das pessoas por trás da inovação que está em curso, impulsionada por uma visão high tech de como obter sucesso em uma economia global", diz o relatório da Thomson Reuters. O Brasil, que tem uma população de 190 milhões de pessoas, produz, a cada ano, 500 mil novos graduados ou licenciados e cerca de dez mil novos pesquisadores doutores, o que representa um aumento de dez vezes em 20 anos. Além disso, o país gastou £4,8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2007, o que significa cerca de 1% do Produto Interno Bruto - bem à frente de muitos países europeus no mesmo ano.
O relatório continua: "O Brasil é uma economia competitiva cada vez mais importante em pesquisa. Sua capacidade de trabalho em pesquisa e os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento estão se expandindo rapidamente, oferecendo muitas possibilidades novas em um portfólio de pesquisa em constante diversificação. O perfil do Brasil, com a melhoria da excelência, tamanho e interface com o resto da comunidade científica internacional de base, o tornará um parceiro fundamental em qualquer futuro portfólio de pesquisa internacional.
Enquanto os gastos consideráveis em universidades merecem aplausos, é importante lembrar também do ensino superior em um setor global altamente competitivo. Os números divulgados mais recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que os Estados Unidos, que lideram o mundo com alguma distância, gastam 3,1% do PIB na educação superior em comparação com a média da OCDE, que é de 1,5%. Assim, enquanto não é hora para complacência em nenhum nível, se o Brasil mantiver o ritmo financeiramente, esperamos que as futuras edições das tabelas globais demonstrem sua emergência como uma potência mundial em educação superior.
Phil Baty é editor do Times Higher Education World University Rankings.
Fonte: Revista Ensino Superior
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