Em comparação a países emergentes, cientistas brasileiros são os que conseguem taxas de impacto mais altas em publicações nacionais. Análise foi feita no Seminário de Avaliação do Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR, realizado na FAPESP
Por Fábio de Castro Agência FAPESP
Em comparação com todos os países da América Latina e do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), os cientistas brasileiros são os que conseguem taxas de impacto mais altas com publicações em revistas nacionais.
A análise foi feita por Félix Moya, pesquisador do Departamento de Dinâmica da Ciência e da Inovação do Instituto de Políticas e Bens Públicos de Granada (Espanha), durante o 2º Seminário de Avaliação do Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR, realizado na última sexta-feira (16/9) na sede da FAPESP, em São Paulo.
O evento foi promovido pelo programa Scientific Electronic Library Online (SciELO), criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).
O objetivo do seminário foi discutir a crescente visibilidade conquistada pela ciência brasileira no Journal Citation Reports (JCR), o mais importante índice internacional de citações. A quantidade de periódicos nacionais indexados no JCR cresceu 43% de 2009 para 2010.
Segundo Moya, além do aumento da presença de publicações científicas editadas no Brasil no cenário internacional, houve uma clara melhora do impacto dessas publicações. Prova disso é que, em relação aos países do BRIC e da América Latina, o cientista do Brasil é o que consegue as mais altas taxas de impacto publicando em revistas nacionais.
“O SciELO tem muito a ver com isso, com toda certeza. Não há nenhum país do mundo que tenha um projeto nacional de acesso aberto a suas publicações como esse. Não é tudo o que tem que ser feito no campo da difusão de ciência no Brasil, mas é um passo muito importante e que não foi feito em outros países”, disse à Agência FAPESP.
O fator de impacto em si, no entanto, não deve ser um fim em si mesmo, de acordo com Moya. “A busca de um melhor impacto é importante à medida que ele pode ser considerado um sintoma da melhora da qualidade da pesquisa. Há uma clara correlação entre o impacto e a excelência da pesquisa. A importância disso, portanto, não se limita ao campo científico: o alto impacto da pesquisa tem grande relevância social”, disse.
As análises, no entanto, precisam ser feitas com cuidado, segundo Moya. De acordo com ele, o que não é verdade para um pesquisador pode ser verdade para um país.
“Se alguém diz que cada trabalho que é publicado em uma revista de alto impacto será um trabalho de excelência, está dizendo algo falso. Mas se alguém diz que se os pesquisadores brasileiros tendem a publicar em revistas de mais impacto haverá uma maior quantidade de trabalhos de excelência, isso é verdade”, afirmou.
Segundo ele, é preferível que os pesquisadores se submetam a processos mais rigorosos e competitivos para publicação dos trabalhos, porque isso é o que garante a qualidade desses trabalhos no conjunto da comunidade científica. Mas, ainda que não sejam as preferidas, as revistas de baixo impacto também têm sua função.
“Só deixarão de publicar nas revistas de menores impactos aqueles que podem publicar nas de alto impacto. Para os outros, é preciso ter outras revistas. Os que são publicados nas revistas de baixo impacto não são necessariamente piores. O mesmo pesquisador pode publicar alternativamente em ambos os tipos de revistas. Esse assunto é muito mal analisado e as conclusões são muito mal tiradas quando se olha para casos individuais. É um assunto que deve ser analisado como um sistema”, afirmou.
O sistema complexo de comunicação da ciência, de acordo com o pesquisador espanhol, tem a capacidade para implantar o conhecimento em distintos níveis de revistas. “Nem os pesquisadores nem as revistas ficam imóveis. O que faz falta é que sejam observadas as tendências que devem seguir pesquisadores e revistas”, disse.
Se para o pesquisador é recomendável buscar as revistas de alto impacto, para as revistas é fundamental desenvolver uma política editorial que incremente a colaboração internacional. Para Moya, os editores devem desenvolver atividades de marketing científico.
“Seria interessante, por exemplo, se os editores das revistas brasileiras enviassem a cada um dos cientistas citados em suas revistas um comunicado sobre a citação. Isso geraria um processo de diálogo, fazendo com que os autores dos trabalhos citados conheçam mais a revista, já que são potenciais colaboradores. Esse tipo de prática de marketing científico melhora a visibilidade internacional dos trabalhos”, apontou.
Segundo Moya, quando a revista tem mais colaborações internacionais, os autores aumentam o espectro da procedência de suas citações. “Creio que por isso foi estabelecida a diferença entre a atividade de editor, que se ocupa do nível científico da revista, e a atividade de publisher, que é um editor profissional, que trata de conseguir, no âmbito da pura comunicação, a maior visibilidade possível para a publicação. Nem todas revistas têm um publisher, mas é um papel central no processo”, disse.
Internacionalização da ciência
Durante o evento, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou o interesse da Fundação em acompanhar o desempenho das revistas brasileiras que angariaram mais interesse internacional e aumentaram sua visibilidade.
“Temos interesse em acompanhar o desempenho e desenvolvimento dessas coleções de revistas para saber que ações poderemos realizar no período subsequente a fim de intensificar esses progressos. Por outro lado, esperamos que o debate ajude a diagnosticar os gargalos e problemas a fim de buscarmos soluções para eles”, disse.
Brito Cruz destacou também a importância da internacionalização da ciência brasileira proporcionada pela consolidação das publicações científicas. De acordo com ele, o progresso da ciência ocorre de forma mais intensa quando há diálogo entre os cientistas de várias partes do mundo.
“Quando medimos o impacto das publicações, queremos avaliar a comunicação. Publicar um artigo científico é um ato de comunicação. É uma forma de comunicar aos outros as descobertas e submetê-las à crítica. Gostaria que a ciência feita no Brasil conversasse mais com o mundo. Quanto mais as pessoas inteligentes daqui dialogarem com gente inteligente no mundo, mais a ciência brasileira irá progredir”, analisou.
De acordo com Abel Packer, coordenador operacional do SciELO, entre 2007 e 2010 houve um crescimento de 17% dos periódicos publicados pelo programa. A média de crescimento, nesse período, foi de 5% ao ano. Por outro lado, a presença brasileira aumentou quatro vezes entre 2007 e 2008 em uma das principais bases de dados internacionais – a Web of Science-ISI (WoS), na qual se fundamenta o JCR.
“O ingresso de mais periódicos brasileiros na WoS e outras bases de dados importantes contribuíram para que o Brasil subisse para a 13ª posição no ranking mundial de produção científica. Nessa produção, contando artigos e revisões, o peso dos periódicos brasileiros é de 33% do total”, disse Packer.
Com 33% o Brasil tem uma porcentagem grande de artigos com fator de impacto publicados em periódicos nacionais em relação a outros países como África do Sul (21%), Índia (17%), China (16%), México (10%) e Espanha (10%).
“No fator de impacto o Brasil não está mal em termos de comparação entre periódicos nacionais. Cerca de 10% dos periódicos têm fator de impacto acima da média em suas respectivas áreas. Nosso desafio é subir para 15% ou 20% dos periódicos com fator de impacto acima da mediana”, disse Packer.
Rogério Meneghini, coordenador científico do programa SciELO, destacou que a ciência é um processo cíclico. Segundo ele, a produção científica propriamente dita não é o último passo do processo, do qual fazem parte também a comunicação científica e a discussão informal com os pares. “Publicar é um feito complexo, muito importante, do processo de fazer ciência”, afirmou.
De acordo com Meneghini, ao contrário dos países desenvolvidos, onde o número de periódicos está relacionado diretamente aos interesses comerciais, nos países emergentes o número de publicações tem conexão com a necessidade de dar vazão à produção científica.
“No momento da publicação há duas rotas possíveis, a nacional e a internacional. O que estamos discutindo nos últimos anos – e que seguiremos discutindo – é o quanto a publicação brasileira começa a ganhar overlap em relação à produção internacional. Ou seja, em que medida aquilo que publicamos aqui passa a fazer parte do contexto internacional de publicações científicas”, disse.
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