segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Tecnologias de introspecção



Gutenberg tornou uma das maiores ferramentas de instrospecção - os livros - disponvíveis para mais pessoas. Será que os inovadores tecnológicos conseguem um artifício equivalente com os aparelhos existentes nos tempos de hoje, em que a necessidade de introspecção é muito grande, se não maior? No entanto, todos os movimentos da tecnologia são feitos na direção oposta, buscando uma conectividade mais intensa e aumentando nossa exposição à multidão. "Todos os seus aplicativos. Tudo ao mesmo tempo", dizia um anúncio de um smartphone, como se "ao mesmo tempo" fosse benefício para a mente.


A experiência do livro eletrônico caminha na mesma direção. Embora seja frequentemente anunciado como um gigantesco passo para o futuro, alguns dispostivos para leitura de livros eletrônicos são programados para tornar a experiência de ler exteriorizada. São praticamente minicomputadores dotados de programas de e-mail e navegador de internet, e assim dificultam muito a introspecção do leitor. Será que queremos realmente tornar nossos livros fonte de dispersão como tudo o mais em nossa vida?


O princípio de Gutenberg pode ser aplicado a muitos outros aparelhos digitais, inclusive ao notebook. Quando quero impedir distrações e realmente terminar algum trabalho no meu notebook, interrompo o acesso à rede sem fio, transformando o computador em um instrumento desconectado. Infelizmente, em meu notebook esse é um processo um tanto incômodo, que envolve múltiplas chaves. As tecnologias digitais deviam pressupor que às vezes é bom estar desconectado. Um pequeno, mas extremamente útil, botão de "desconectar" permitiria ao usuário transitar pelas duas zonas: conectado e desconectado. Hoje, como no século XV, todo mundo precisa de algum tempo de isolamento. A tecnologia deveria atender a essa necessidade.


Trecho do livro O BlackBerry de Hamlet: filosofia prática para viver bem na era digital, de William Powers.
Imagem: Internet

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