sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os meninos-reis: uma jornada ao coração da rede social


No Facebook o importante é a evolução a qualquer preço, diz ex-funcionária

Por Diogo Antonio Rodriguez,  Especial para o ‘Estado’


Em 2005, o Facebook não era mais do que um amontoado de mesas e computadores em um endereço comercial em Palo Alto, Califórnia. Os usuários ainda se resumiam a algumas dezenas de milhões e o ambiente tinha de uma certa precariedade.

Funcionária número 51 da empresa, Katherine Losse e todos os seus colegas usavam a mesma senha para administrar o site – algo impensável hoje, com centenas de milhões de perfis e ações em jogo na bolsa de valores.

Os bastidores desse ambiente estão no livro escrito por Katherine Losse e lançado no fim de junho dos EUA. Em The Boy Kings: A Journey into the Heart of the Social Network (Os meninos-reis: uma jornada ao coração da rede social, ainda inédito no Brasil), a história do Facebook é contada pela perspectiva de Losse, uma mulher formada em letras no meio de homens meio meninos fascinados por engenharia.

A primeira função de Losse, em 2005, foi responder a e-mails de usuários. Quando saiu, em 2010, sua função era redigir os textos assinados por Zuckerberg.

Ela viu o Facebook passar de um pequeno escritório a um império na internet. Sua contribuição foi coordenar a tradução para línguas, como japonês, italiano e espanhol.

O tempo lhe mostrou as peculiaridades de Mark Zuckerberg. Não demorou até que percebesse que havia um caminho mais fácil para conseguir respeito e sucesso. “Minhas preocupações no começo tinham a ver a com o fato de que era difícil para alguém progredir no Facebook se não fosse engenheiro”, disse em entrevista ao Link.

Esta era também a filosofia de negócios: “Na visão de Mark e de alguns engenheiros, o crescimento rápido e irrestrito da plataforma era bom porque provava que, no Facebook, o desenvolvimento técnico, e não os desejos do marketing ou dos usuários, era o rei”, afirma no livro.

O feed de notícias, por exemplo, foi incorporado sem aviso. Milhões viram expostos seus relacionamentos, fotos e curtidas. Katherine leu milhares de e-mails raivosos. Mais importante era evoluir a qualquer preço.

Losse observa: “Mark tem sido claro em suas declarações públicas. Ele acredita que o mundo vai na direção de ser um lugar mais ‘aberto’ e menos privado, e ele quer que o Facebook participe desse movimento”. A ambição de Zuckerberg é criar uma enorme “lista telefônica” mundial, queiram as pessoas estar nela ou não.

Os perfis “obscuros” – de pessoas que não estavam no Facebook, mas eram marcadas por amigos em fotos – são prova disso. No livro, Losse conta que a ferramenta foi criada em 2006 porque os funcionários da empresa “estavam convencidos de que o Facebook era algo que todos deveriam ter”. E os perfis ficavam escondidos.

A ideia de alguém que não quisesse estar na rede era estranha para eles. “O Facebook era nossa religião e acreditávamos que todos deveriam ser usuários, mesmo que ainda não tivessem consentido”, escreve ela.

As primeiras cobaias das novidades eram justamente os funcionários, que faziam testes em seus próprios perfis: “A ideia de trabalhar no Facebook era participar da construção desse mundo social virtual, então testar o produto era parte disso. Não havia muitas fronteiras entre a vida pessoal e o trabalho”, diz Losse.

Em relação à privacidade, a mensagem é clara: “se você espera que o Facebook continue muito privado, talvez tenha uma expectativa errada a respeito do site”, avisa.

Fora da empresa desde 2010, ela diz que tem boas lembranças daquela época, apesar de “não sentir saudades”. Seu único vínculo com o ex-patrão é, claro, um perfil no Facebook.

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