terça-feira, 9 de julho de 2013

Biblioteca digital garante acesso sem infringir copyright

Alexis Rossi, diretora de coleções do Internet Archive, fala sobre como manter uma base de dados aberta sem entrar em conflito com detentores de direitos autorais

Déborah Salves | Terra
Direto de Porto Alegre
  
Compartilhar conhecimento. O termo vive um momento de alta com a internet, mas a atividade é tão antiga quanto o homem. E uma das formas institucionais mais consolidadas de garantir acesso a informações são as bibliotecas.

"Estamos tentando recriar digitalmente esse processo, para que não percamos a capacidade de acessar o conhecimento - uma vez que hoje há até pessoas querendo tirar o direito de compartilhar algo que você comprou", explica Alexis Rossi, diretora de coleções do Internet Archive, que disponibiliza mais de um milhão de títulos gratuitamente.

Alexis foi um dos destaques do Fórum Internacional Software Livre (fisl) de 2013, realizado entre 3 e 6 de julho em Porto Alegre. Ao Terra, a executiva do Internet Archive contou quais os passos que a organização toma para conseguir disponibilizar seu acervo e ainda respeitar os direitos autorais dos produtores de conteúdo.

"Bibliotecas trabalham com coisas criadas por outras pessoas, e temos uma maneira histórica de fazer isso", diz. "Não queremos que ninguém perca dinheiro, só queremos que as pessoas tenham acesso às informações", resume.

Acervos digitais
Alexis lista a Wayback Machine como um dos principais sucessos do Internet Archive. O banco de dados aberto lançado em 2001 reúne versões antigas de site da internet - como, por exemplo, a primeira versão do Google.


Wayback Machinie do Internet Archive permite ver layouts antigos de sites, como o do Google em 1998
Foto: Reprodução

"Os advogados nos alertaram que poderíamos entrar em grandes problemas, porque esses não eram sites nossos", lembra. Mas a equipe levou o projeto adiante ainda assim, e "todo mundo ficou ok" com a ideia. "Hoje os advogados usam para processarem uns aos outros", brinca.

O segundo grande feito da organização é o sistema de empréstimo de livros. "Além de um milhão de livros de domínio público que podem ser baixados - e inclusive convertidos em formas impressas para pessoas cegas ou com baixa visão, por exemplo -, temos cópias digitais de livros novos", explica.

E funciona como uma biblioteca normal, uma cópia vai emprestada, retorna em um período e é então emprestada ao próximo usuário. "Escaneamos os originais, que guardamos em um acervo com temperatura controlada, e imprimimos uma cópia para empréstimo", detalha.

Alexis diz que, de novo, os advogados alertaram sobre possíveis problemas com o sistema, mas novamente houve compreensão do mercado editorial. "Uma biblioteca pode ainda ser uma biblioteca mesmo que digital", resume.

O terceiro grande passo do Internet Archive foi a criação de uma biblioteca navegável de notícias de TV. A busca é feita pelos GCs - as letras que aparecem na parte inferior da tela identificando o tema tratado, o entrevistado, ou o local, por exemplo.

"Queríamos fazer da TV um meio de registro pesquisável. Muitas das notícias são transmitidas pela TV", detalha.

O projeto, lançado em setembro, ainda está em fase inicial e é muito focado nos Estados Unidos, uma vez que nem todos os países têm o hábito de inserir GCs - há gravações, hoje, em 35 nações. As notícias são exibidas em pedaços de 30 segundos, e se o usuário tiver interesse no programa inteiro, pode alugar uma cópia em DVD, entregue via correio, pagando o envio.

"Não pedimos permissões às emissoras, apenas avisamos a elas que iniciaríamos as gravações", afirma, citando mais uma vez as preocupações dos advogados. "Ninguém nos processou até agora", acrescenta.

"Acho que o motivo de o Internet Archive ser tão grande é que tomamos grandes riscos", afirma, em relação às ações contra os conselhos dos representantes legais da ONG.

Um dos objetivos da visita de Alexis ao fisl era informar aos desenvolvedores sobre os dados de que a organização em que trabalha dispõe. "Queremos que as pessoas usem nossos dados. Temos no blog vários tutoriais sobre como ter acesso, temos uma API de meta data, e queremos também contribuam com informações", enumera.

Alexis finaliza lembrando que o Internet Archive aceita doações, e que as cópias extras são doadas a outras bibliotecas.

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