quinta-feira, 30 de junho de 2016

A caderneta vermelha


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Naquela estação, pouca gente ficava na varanda da cafeteria, e Laurent escolheu uma mesa da “primeira fileira”, ou seja, voltada diretamente para a calçada. Instalou-se perto de um dos queimadores a gás que guarneciam o local para aquecer os fregueses. Paletó preto, camisa branca, jeans Levi’s e uma echarpe azul presenteada por Claire dez anos antes, portanto tudo aconteceria do jeito como a filha queria; eram quase dezoito horas. Pediu um expresso e, para passar o tempo, começou a observar os clientes ao redor. Alguns homens que haviam saído de seus escritórios antes do horário bebiam cerveja. Tinham o rosto cansado mas se obrigavam a rir, trocando fofocas do trabalho. Uma mulher sozinha, poucas mesas adiante, parecia concentrada na tela de um e-reader. Laurent virou imperceptivelmente a cadeira e se inclinou para ela. O aparelho permitia baixar uma biblioteca inteira e transportá-la dentro de uma bolsa. O livro de papel resistiria a essa maravilha tecnológica? Apesar do bom volume de negócios do Cahier Rouge, às vezes Laurent duvidava.


Trecho do livro "A caderneta vermelha", de Antoine Laurain (Alfaguara, 2016)

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