segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

PLoS One publica artigo sobre a baixa citação de autores latino-americanos em periódicos de prestígio

Trabalhos científicos são publicados todos os dias em milhares de periódicos científicos em todo o mundo. A qualidade destas publicações é de suma importância para a comunidade científica e para o autor, pois nela baseia-se toda a vida acadêmica de um pesquisador e dela dependem suas promoções e verbas para pesquisa.

Um dos indicadores utilizados para medir a qualidade dos trabalhos publicados por uma revista científica é o Fator de Impacto (FI): trata-se da relação entre o número total de citações recebido por um determinado periódico pelo número de artigos publicados num determinado intervalo de tempo. Mesmo que usado e aceito internacionalmente, com grande relevância para a visibilidade da produção científica, há críticas sobre a real eficácia em medir a qualidade dos trabalhos acadêmicos por meio do FI.

Outra hipótese é de que o indicador prejudique a visibilidade da ciência produzida em países em desenvolvimento, em particular os latino-americanos, como afirmam em artigo publicado no periódico PLoS One, os autores Rogerio Meneghini, Abel Packer e Lilian Nassi-Calò, respectivamente coordenador científico da SciELO (Scientific Electronic Library Online), coordenador operacional da SciELO e Diretor, e consultora da BIREME/OPAS/OMS (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde).

Para a elaboração do artigo, os autores levaram em consideração citações de 2006 para trabalhos publicados em 2004 e 2005 e que estavam na Web of Science (WoS). Nesta amostra haviam trabalhos publicados em sete prestigiadas publicações internacionais e que foram divididos em dois grupos: de autores latino-americanos da Argentina, Brasil, Chile e México; e dos cinco países desenvolvidos Inglaterra, França, Alemanha, Japão e Estados Unidos. Os grupos foram ainda subdivididos em: artigos de autores de um só país; e de artigos elaborados em colaboração com autores de outros países.

O resultado do trabalho mostra que os artigos de autores dos cinco países desenvolvidos tiveram FI médio de 6.36, mais próximo do valor global entre os sete periódicos de 5.93. Já nas publicações com os artigos de origem latino-americana o FI foi 5.04, o que individualmente também se mostrou menor entre outros artigos do mesmo periódico.

A questão da colaboração com autores de outros países não teve grande influência no FI do grupo de nações desenvolvidas que têm o FI médio de 5.73. Já no grupo latino, a colaboração com autores – (praticamente) todos de países desenvolvidos – é presente em 77% dos artigos. Isto impacta significativamente, representando FI médio de 5.04, maior em média 66% do total de FI dos periódicos, aproximando o FI dos valores globais dos sete periódicos enquanto os artigos feitos sem colaboração internacional ficaram atrás com o FI médio de 3.38.
Os autores concluem que há ainda questões importantes a serem estudadas para
responderem se o menor FI dos artigos da América Latina se deve à qualidade e relevância das pesquisas ou a uma tendência psico-social para baixa citação de artigos provenientes destes países. Um estudo adicional também seria necessário uma vez que existem conseqüências previsíveis, na medida em que pode estimular editores para desmerecer artigos que tendem a ser sub-citados.

Enquanto isso, disponibilizar artigos em acesso aberto é uma saída para aumentar a visibilidade da produção científica de países em desenvolvimento. Como acontece com os periódicos que fazem parte da coleção SciELO, de quase 600 publicações e cerca de 190 mil artigos abrangem uma rede envolvendo a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Portugal, Venezuela e ainda as coleções temáticas, Saúde Pública e Social Sciences, entre outras participações da rede em desenvolvimento.

Há mais de 10 anos a iniciativa caminha na contramão da prevalência do fator de impacto, implementada sob a liderança da BIREME, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil (CNPq), com o apoio de agências e conselhos nacionais de ciência e tecnologia.
Acesse o artigo na íntegra, publicado na PLoS One - 25/11/2008 (em inglês)



Fonte: Newsletter BVS

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