sexta-feira, 13 de maio de 2011

Agregar conteúdos para uma mais fácil difusão

Antónia Marques - iGOV Central


Permitir um maior acesso aos conteúdos digitais e digitalizados portugueses através da Internet é um dos objectivos base do Registo Nacional de Objetos Digitais (RNOD), que está a ser desenvolvido pela Biblioteca Nacional de Portugal.

Com o RNOD as bibliotecas e outras instituições que possuam catálogos bibliográficos vão poder ter acesso a um agregador único desses conteúdos digitais e digitalizados, passando a dispor deste serviço sem necessidade de criar o seu próprio agregador. Ou seja, podem a partir daqui dar a conhecer o ser acervo que está acessível em formato digital assim como usar o RNOD para exportar os seus dados para a biblioteca digital europeia, a Europeana.

Uma das características do RNOD é o fato da base de dados dos objectos digitais estar no seu proprietário e não na BNP. Ou seja, quando de clica num dos documentos apresentados pelo RNOD vai-se ter à sua localização original.

Sendo este um projeto de grande envergadura, uma vez que para além da BNP envolve inúmeras instituições, basta falar nas bibliotecas municipais existentes do país, houve várias motivações que estiveram na base do mesmo.

De acordo com Inês Cordeiro, subdirectora-geral da BNP, esta preocupação de digitalizar e colocar online não é de agora. «Desde há cerca de uma década que se tem vindo a vulgarizar a extensão dos serviços tradicionais das bibliotecas no ambiente de rede, em que já não são apenas os catálogos que estão acessíveis online, mas também uma parte dos próprios recursos de informação, nascidos digitais ou produzidos por digitalização de documentos analógicos (os que estão nas prateleiras das bibliotecas)», explica.

Isto porque a Internet veio modificar o serviço prestado pelas bibliotecas e levar estas a equacionar novas formas de servir os seus públicos. E uma das necessidades sentidas, numa época em que o acesso rápido à informação é essencial foi a de «criar mecanismos que possibilitem a identificação, localização e acesso, num ponto comum de rede, dos recursos digitais disponíveis online, para obviar à multiplicidade e dispersão das respectivas fontes». Sendo esta «uma das motivações do RNOD, a que e junta outra, não menos importante, que é a de aumentar os conteúdos culturais portugueses na Internet».



Uma porta para a Europeana

E é aqui que entra a questão da Europeana, uma vez que o RNOD irá fornecer um serviço que canaliza para a biblioteca digital europeia a informação das entidades portuguesas que participam na mesma.

«Essa será a mais valia principal uma vez que potencia uma muito maior utilização dos recursos digitais que as instituições disponibilizam. Aumentar o acesso aos documentos digitais é a principal razão de ser da digitalização e colocação de recursos online. A experiência da BNP nesse domínio é muito ilustrativa. Com o lançamento da Europeana, em Novembro de 2008, o número de acessos à Biblioteca Nacional Digital multiplicou-se várias vezes, atingindo mais de 7 milhões de consultas por ano, o que seria impensável anteriormente. Para além do crescimento em número de acessos, há também o enriquecimento do contexto em que os objectos digitais ficam acessíveis: do ponto de vista dos utilizadores, é muito diferente pesquisar um autor, tema, etc., ou tipo de objecto, numa base local ou nacional ou fazer a mesma pesquisa num contexto muito mais alargado e obter resultados em maior quantidade e diversidade, e de um número muitíssimo maior de fontes. Do ponto de vista das organizações, a participação na Europeana reforça substancialmente a sua internacionalização e a promoção da cultura portuguesa», reconhece Inês Cordeiro.

Mas se um das mais valias do RNOD é permitir que as bibliotecas e as instituições culturais uma forma mais fácil de exportar dados para a Europeana, no início do processo de adesão ao RNOD, que é voluntário, estão outros objectivos, como a centralização da informação sobre os objectos digitais nacionais num único ponto de acesso, tanto para estas instituições como para o público em geral.

No caso das instituições o RNOD pode servir também para reduzir os custos de digitalização das obras, isto porque ao fazerem uma pesquisa por um determinado título ficam a saber se há ou não digitalizações do mesmo já disponíveis, podendo optar, caso hajam, por não avançar com esse trabalho.



Partilha de interesses e de experiências

Como explica Inês Cordeiro «o primeiro objetivo é o de proporcionar um ponto central de pesquisa em que seja possível encontrar os recursos digitais e digitalizados e ser direcionado para a sua consulta no endereço em que estão publicados. O segundo é o de criar um serviço que transporte automaticamente a informação desse ponto central para o portal Europeana, sem tarefas ou custos adicionais por parte das entidades participantes do RNOD. Outros objetivos complementares são a possibilidade de inscreverem no RNOD intenções de digitalização, para que possa haver conhecimento disponível que viabilize coordenação de actividades de digitalização. Os custos da digitalização e do armazenamento digital são significativos e, por isso, importa saber quem já digitalizou e disponibilizou determinadas publicações para que não haja duplicação desnecessária».

Em vista está também a criação de uma comunidade de interesses para a partilha de experiências e ações de colaboração técnica entre os profissionais, com o objetivo de fomentar as boas práticas, assim como o aprofundamento e atualização de conhecimentos técnicos e normativos na área da digitalização e construção de arquivos digitais. Isto porque, de acordo com Inês Cordeiro, estas são «matérias em constante desenvolvimento e para as quais não existe propriamente uma oferta de formação coerente ou estabilizada. Também nestes aspectos o RNOD poderá ter efeitos que se conjugam com o papel normativo e de formação profissional contínua que fazem parte da missão da BNP».

O projeto RNOD está agora a começar a receber as primeiras adesões, tendo a sua fase piloto sido desenvolvida através da colaboração de quatro entidades: Assembleia da República, Instituto Camões, Universidade de Lisboa e a própria BNP.

Até ao final de 2011 é expectável que o mesmo tenha uma adesão significativa, nomeadamente de instituições que já disponibilização recursos digitais nos seus serviços online. «Não é fácil, no entanto, ter uma previsão concreta do número de adesões. Mas a avaliar pelo interesse que tem vindo a ser manifestado, por muitas instituições, em participar na Europeana, podemos esperar que sejam dezenas, neste primeiro ano. Ao desenharmos as soluções e funcionalidades do RNOD, tivemos especial cuidado em proporcionar às entidades aderentes todas as facilidades possíveis para reduzir o esforço da participação. Isto é, procurámos que o processo de adesão seja rápido e sem grandes formalidades, e que o carregamento de dados seja o mais autónomo possível e através de operações que reutilizem os dados de que já dispõem localmente, nos seus sites e bases de dados, ou que já existem na PORBASE, por via de funcionalidades simples e de baixa exigência técnica. Este aspecto será fundamental para o sucesso das adesões ao RNOD», salienta.

Para o futuro está em equação a criação de um interface em inglês e ainda a possibilidade de trabalhar com outros organismos da cultura que estão a desenvolver funções de agregador, como os museus e os arquivos, para o desenvolvimento de funcionalidades comuns.

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