terça-feira, 13 de março de 2012

Mais impacientes, internautas querem sites num piscar de olhos

Demora de 0,4 segundo já é suficiente para irritar usuários. Google e Microsoft investem em pesquisa para tornar a web mais rápida


The New York Times | IG


Espere um segundo.


Não, isso é tempo demais.


Você se lembra de quando estava disposto a esperar alguns segundos para que o computador respondesse a um clique num site ou a um toque no teclado? Hoje em dia, até mesmo 400 milissegundos - literalmente um piscar de olhos - é demorado demais, segundo uma descoberta de engenheiros do Google. Esse atraso quase imperceptível faz com que as pessoas pesquisem menos.


"Subconscientemente, você não gosta de esperar", disse Arvind Jain, engenheiro do Google e principal maestro de velocidade na empresa. "Cada milissegundo importa".


O Google e outras empresas de tecnologia estão numa nova busca por velocidade, desafiando pessoas como Jain a acelerar o que já é rápido. O motivo é que smartphones e tablets sedentos por dados vêm criando frustrantes congestionamentos digitais - à medida que usuários baixam mapas, vídeos de esportes, novas atualizações ou recomendações para restaurantes próximos. A competição para ser o mais rápido é feroz.


Foto: NYT
Arvind Jain, do Google, mostra uma tabela com o tempo de carregamento de páginas web


As pessoas acessam um site de vendas ou notícias com menor frequência se ele for 250 milissegundos mais lento do que um concorrente próximo (um milissegundo corresponde a um milésimo de um segundo). "Essa diferença de 250 milissegundos, seja para mais ou para menos, está perto do atual número mágico da vantagem competitiva na internet", afirmou Harry Shum, cientista da computação e especialista em velocidade da Microsoft.


O desempenho dos sites varia, assim como as expectativas dos usuários. Uma pessoa é mais paciente esperando um vídeo carregar do que pelo resultado de uma busca. E os sites enfrentam constantes conciliações entre riqueza visual e agilidade de resposta. Como sites de entretenimento e notícias oferecem mais vídeos e imagens interativas, isso pode deixar as coisas mais lentas.


Segundo pesquisas, porém, a velocidade importa em qualquer contexto. Quatro de cada cinco usuários online deixam o site se um vídeo demora para carregar.


Lentidão é mais grave em celulares


Em celulares, uma página web leva vagarosos nove segundos para carregar, segundo o Google, que rastreia uma enorme gama de sites - de páginas principais de grandes empresas às legiões de blogs individuais. O tempo médio de download em computadores pessoais é de seis segundos mundialmente, e cerca de 3,5 segundos nos Estados Unidos. Os grandes mecanismos de busca, como Google e Bing, são os demônios da velocidade na web, dizem analistas, geralmente entregando resultados em menos de um segundo.


Foto: Getty Images
Página do Google em smartphone: lentidão prejudica navegação em celulares


A sede por velocidade nos smartphones é uma oportunidade de negócio para empresas como a Akamai Technologies, especializada em ajudar sites a entregar serviços mais rapidamente.


A Akamai pretende lançar, ainda em março, um software acelerador de celulares para reduzir o tempo de carregamento de sites ou aplicativos.


O governo também reconhece a importância da velocidade na computação móvel. Em fevereiro, o congresso dos EUA abriu as portas a um aumento de capacidade de rede para dispositivos móveis, propondo uma legislação que permite o leilão de ondas públicas - hoje usadas em transmissões televisivas - para provedores de internet sem fio.


Fibra óptica e novos algoritmos melhoraram velocidade da rede


Superar as barreiras de velocidade se tornou parte da história da internet. Na década de 1990, quando a World Wide Web ganhou popularidade, ela era chamada de "World Wide Wait" (ampla espera mundial, em tradução literal). Invenções e investimentos atenderam ao chamado.


Instalar cabos de fibra ótica para transmissões de alta velocidade foi a primeira solução. Mas, além da largura de banda, a internet ficou mais rápida devido a inovações em algoritmos de software para roteamento de tráfego - e à distribuição de servidores ao redor do mundo, mais próximos dos usuários.


A Akamai, que surgiu no Laboratório de Ciência da Computação do MIT, criou seu negócio fazendo apenas isso. A maioria dos grandes sites de hoje usa tecnologia da Akamai. A empresa vê a internet móvel como o próximo grande desafio.


"As expectativas dos usuários estão cada vez mais curtas, e a infraestrutura de celulares não foi construída para esse tipo de velocidade", explicou Tom Leighton, cofundador e principal cientista da Akamai, que é também professor do MIT. "E isso é uma oportunidade para nós."


A própria necessidade por velocidade parece estar acelerando. No início da década de 1960, os dois professores do Dartmouth College que inventaram a linguagem de programação BASIC, John Kemeny e Thomas Kurtz, configuraram uma rede onde muitos estudantes podiam acessar um único grande computador por terminais com teclados.


"Descobrimos", observaram eles, "que qualquer tempo de resposta com mais de 10 segundos destrói a ilusão de ter seu próprio computador".


Regra dos dois segundos em questão


Em 2009, um estudo da Forrester Research mostrou que compradores online esperavam que as páginas carregassem em dois segundos ou menos - e com três segundos, uma grande parcela deixava o site. Apenas três anos antes, um estudo similar da Forrester descobriu que a expectativa média de carregamento de página era de quatro segundos ou menos.


A regra dos dois segundos ainda é bastante citada como padrão para sites de comércio eletrônico. Mesmo assim, especialistas em interação homem-computador dizem que a regra está ultrapassada. "A velha diretriz de dois segundos já foi há tempos ultrapassada na corrida das expectativas online", afirmou Eric Horvitz, cientista dos laboratórios de pesquisa da Microsoft.


O Google, que recolhe mais receita com publicidade online do que qualquer outra empresa, pode se beneficiar mais que a maioria caso a internet fique mais rápida. Jain, que trabalhou na Microsoft e na Akamai antes de se juntar ao Google, em 2003, é defensor da velocidade tanto dentro quanto fora da empresa. Ele conduz um programa "Torne a internet mais rápida", iniciado em 2009. Ele também assume posições importantes em grupos de padrões da indústria.


A velocidade, segundo Jain, é um elemento crucial dos produtos do Google. Existe até mesmo um orçamento para velocidade em toda a empresa; novas ofertas e ajustes de produtos não devem desacelerar os serviços do Google. Mas já houve lapsos.


Em 2007, por exemplo, depois que a empresa lançou novas ofertas populares como o Gmail, as coisas se desaceleraram ao ponto de os líderes do Google emitirem um "Alerta Amarelo" e distribuírem cronômetros de plástico aos seus engenheiros, para enfatizar a importância da velocidade.


Ainda assim, nem todos estão alinhados com a atual corrida pela velocidade. Kurtz, o cientista da computação de Dartmouth que coinventou o BASIC, tem hoje 84 anos - e admira como as coisas mudaram.


Os computadores e redes de hoje, concluiu Kurtz, "são rápidos o bastante para mim".


Por Stev Lohr

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