quinta-feira, 5 de abril de 2012
Os tablets podem salvar os quadrinhos?
Rafael Barifouse | Época
As revistas em quadrinhos se mantêm as mesmas há quase um século. Mesmo com a popularização da internet, as tentativas de inovar foram poucas e nunca fizeram sucesso. A Marvel pretende mudar isso com o selo Infinite Comics, lançado na quarta-feira. A nova linha da maior editora de quadrinhos do mundo tem revistas desenvolvidas para a tela eletrônica dos tablets. A estreia se deu com o prelúdio à edição de Vingadores versus X-Men, em que os dois principais times de heróis da editora travam uma grande batalha. A história começa com uma provocação: “Você está preparado para o futuro dos quadrinhos?”. Em seguida, o título surge na tela como num filme e dá o tom do que vem a seguir.
No papel, vemos toda a página de uma vez. Precisamos navegar com os olhos por quadro e imaginar a sequência de acontecimentos. O novo formato faz isso por nós. Cada cena é construída aos poucos. Primeiro, surge um pedaço do espaço sideral, que se amplia até ocupar a tela. Ao fundo, algo se aproxima. A cena seguinte, com o mesmo cenário, traz o personagem Nova, um patrulheiro cósmico, entre as estrelas. Mesmo sem movimento, é como se ele tivesse voado em nossa direção. De clique em clique, aparecem seus pensamentos. Em algumas cenas ocorre uma mudança no foco da imagem, como se a lente da câmera tivesse sido ajustada. A sensação de movimento é maior do que no impresso. Não se trata de revolução, mas de avanço.
A Marvel experimenta com a internet há 16 anos, mas só começou a investir de verdade há três, quando pôs no ar um acervo digital de milhares de títulos. Já fez histórias exclusivamente on-line que mantinham a mesma estrutura do impresso. Tentou produzir quadrinhos em movimento, que pareciam animação de quinta categoria. Agora, diz ter chegado a um meio-termo. “A nova técnica confere movimento sem abrir mão da essência dos quadrinhos: o leitor controlar o ritmo da leitura”, diz Joe Quesada, diretor de criação da Marvel. O novo selo passou a tomar forma em 2009, quando Quesada deparou com o trabalho do artista francês Yves Bigeral, criador da técnica usada agora. Na ocasião, ainda não havia uma plataforma para vender quadrinhos digitais. Quando a Apple lançou o iPad, dois anos atrás, a editora achou a ferramenta de que precisava.
O Infinite Comics é uma tentativa de conter a sangria de leitores. Em 1996, o principal título da Marvel vendia 318 mil exemplares por mês. No mês passado, não passou de 52 mil, o nível mais baixo dos últimos anos. O problema é comum à indústria de quadrinhos americana. Hoje ela fatura por mês 26% menos do que em 1996, segundo dados da distribuidora Diamond. O público não está se renovando como as editoras gostariam. O total de revistas vendidas mensalmente caiu quase pela metade nos últimos 15 anos. Enquanto isso, crescem em vendas as edições para colecionadores, voltadas para fãs antigos. Os jovens leitores não vão mais às livrarias e lojas como antes. Preferem tudo on-line. Têm à disposição em fóruns da internet versões pirateadas de todos os títulos no mesmo dia do lançamento, com qualidade e de graça. A Marvel tentou conter a tendência ao prometer que suas revistas estariam na internet pela via oficial com a mesma agilidade. Não conseguiu. Testou uma tinta especial para dificultar a cópia digital. Os piratas contornaram o entrave.
A nova atitude da Marvel parece mais sagaz. Um gibi no formato tablet custa US$ 0,99, um quarto da versão impressa – e um terço de um produto on-line. Para ler é preciso baixar um aplicativo gratuito da editora. A aposta da Marvel é que a HQ em tablet seduzirá uma geração hiperconectada. Os planos vão ainda além. A editora quer tornar os gibis atraentes em gêneros em que eles não funcionavam. “Quadrinhos de horror não tinham o mesmo impacto do cinema. Agora o leitor não sabe qual será a próxima cena”, afirma Quesada. “O futuro depende da reação dos fãs. As possibilidades são infinitas.”
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Nunca fui uma adepto aos quadrinhos, apesar de ter centenas em casa (coleção do meu irmão) mas em Tablets poderia ser diferentes, sei lá, desde que não sejam meras digitalizações, tem que ter algo novo ...
ResponderExcluirjOHn