sexta-feira, 8 de maio de 2015

Os jovens e a leitura em diferentes plataformas


Isabela Treza
Especial para o Diário do Grande ABC

O mundo tecnológico vem tomando conta de cada detalhe do nosso cotidiano, o fato se destaca também na leitura da sociedade. Gradativamente, o livro impresso vai ganhando outros parceiros tecnológicos como o e-book e aplicativos para celulares, que estão ajudando, por meio da portabilidade, a incentivar cada vez mais a leitura de livros entre os jovens, oferecendo fácil acessibilidade aos conteúdos de grandes obras.

O e-book, abreviação de “Electronic book” (livro eletrônico) é basicamente uma versão digital do impresso. Muitas vezes em formato PDF (portable document format), HTML, ePub (eletronic publication), entre outros que podem ser utilizados através do computador, smartphones e tablet's. Aparelhos estes que tomaram conta do entretenimento juvenil.

O dispositivo pode ser adquirido por meio de biblioteca online e sites que disponibilizam livros no formato digital. “No caso dos jovens, há uma lógica. Eu fiz Letras (faculdade) e tinha que estudar Física e Química e era difícil, mas atualmente estudar por livros interativos é muito mais fácil. O livro didático precisa da interação com o mundo digital porque é muito mais fácil estudar quando se faz uma experiência pelo computador, pesquisa, etc..”explica a diretora da CBL (Câmara Brasileira do Livro) Susanna Florissi.

Segundo a pesquisa Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) 2013, encomendada pela CBL, sobre o mercado editorial, a venda de e-books aumentou 225,13% de 2012 para 2013, contudo, ainda representa uma parcela pequena do faturamento total do setor.

Apesar da tecnologia, o livro impresso continua presente e preferível na sociedade brasileira, segundo a pesquisa Fipe 2013, o número total de exemplares vendidos cresceu em 4,13% se considerarmos apenas as vendas ao mercado e 20,41%, somente as comercializações dos livros didáticos feitas para os governos.

Entre os jovens, existe uma disputa acirrada quando se trata da preferência pela leitura de livros em formato impresso ou digitalizado. “Sempre tive um gosto grande pela leitura e depois que comecei a graduação tenho lido muito e diariamente, principalmente textos técnicos. Prefiro livros impressos, parece que com eles consigo me orientar melhor, podendo fazer referências e voltando para reler algo que não ficou claro. Além de que para fazer marcações e grifos acho mais prático o papel”, revela o estudante de Filosofia Gabriel Pirahy, 21 anos, de Santo André.

Por outro lado, muitos jovens têm buscado a leitura através das plataformas digital com o argumento da acessibilidade facilitar muito. “Quando comecei a fazer iniciação científica foi uma forma de investir e aumentar o número de livros lidos. A facilidade e a comodidade da leitura digital é bem maior do que a do impresso. Por exemplo, tanto para ir ao trabalho, quanto ir para a faculdade, utilizo transporte público e é muito mais confortável ler no e-reader . Utilizo o Kindle porque é mais leve, fácil de segurar e posso ter vários livros em um só lugar. Se estou com vontade de ler um livro não preciso me programar antes de sair de casa, basta apertar alguns botões”, conta o estudante de Jornalismo, Pedro Canfora, 24, de São Paulo.

O diferencial dos aparelhos digitais também influencia na escolha dos jovens. O estudante Patrick Alves, 21, de São Caetano, usa o canal para fazer a leitura de conteúdos. “Comecei meu interesse pela leitura digital baixando o aplicativo da Saraiva (livraria) no meu celular e lá achei muitos livros gratuitos e todos os que eu queria ler, então fui me interessando mais e procurando outros livros. Eu prefiro ler pelo aplicativo porque consigo me concentrar mais por conta da iluminação extra que o celular oferece, e também, a quantidade de livros disponíveis é bem grande então tenho mais variedades de escolhas”, explica.

A pesquisa ainda retrata que o crescimento nominal do setor editorial brasileiro foi de 7,52% em 2013. O cenário literário brasileiro é abundante e precioso, com autores que contemplam os mais diversos assuntos, porém a cativação do jovem para a leitura é uma tentativa gradativa que vem ganhando forças através dos aplicativos e livros digitais atuais.

“Um livro interativo com áudios, videos e jogos acredito que só tem a ganhar porque o conteúdo acaba se multiplicando ou sendo ampliado. Um bom exemplo seria a bíblia digital, que pode oferecer links e estes te mostram em tempo real , filmes ou até pelo Google Maps o caminho de Jesus ao calvário, o didático enriquece. Isso chama leitura 2.0", destaca a diretora da CBL, Susanna Florissi.

A leitura digital também conquista por seu efeito prosumer, ou seja, ao mesmo tempo que o leitor recebe ele também compartilha o conhecimento. “ A pessoa pode começar a leitura e então copia um trecho e mandar para a amiga que mora no Japão ou compartilhar em sua rede social. Esse é o presente da leitura digital", complementa a educadora da Câmara.

A professora e coordenadora do Laboratório Hipermídias de Comunicações Culturais da USCS (Universidade de São Caetano), Priscila Ferreira Perazzo, indica que atualmente a leitura dos jovens em salas de aula é diferenciada e grande parte dela é pelo meio digital. “ Hoje o livro tem que encaminhar para o digital por conta do acesso, os jovens em sua maioria não perdem mais tempo indo comprar livros ou os carregando, pelo livro digital você acha o que quiser. Eu queira ler um determinado livro, então até eu comprar já passou tempo, mas se abrir o tablet eu baixo e leio na hora, isso acontece com os alunos e jovens estudantes. O material na internet eles consultam, se mandar procurar com maior deslocamento eles não procuram.”

Futuro do livro impresso
Com os avanços tecnológicos que têm levado a sociedade a mergulhar cada vez mais no universo da internet, o livro impresso, apesar de ainda liderar os números de vendas, pode não ter mais uma vida tão longa. Para especialistas, há uma grande tendência de que eles desapareçam, principalmente no meio didático.

Para a diretora da CBL, Susanna Florissi, as crianças ainda demonstram grande interesse pelo livro impresso devido as figuras, cores, dobraduras, texturas e outras formas que as editoras utilizam para cativá-las. Porém, a tendência estimada é que esse público busque um complemento em aplicativos, como jogos, sons e uma maior interatividade. “Para as crianças o livro impresso é atraente e não irá morrer porque elas se atraem ao terem o físico nas mãos. Mas talvez, não se satisfaçam mais somente com o impresso, por isso se produz o aplicativo. Para a criança será um mix."

Quando a análise é voltada para o livro didático, Susanna estima que esses sairão de circulação por conta do modo de pesquisa atual dos jovens ser mais pelo meio digital. “No mundo dos didáticos nós teremos o impresso e o digital ou um digital que complemente o impresso, porém talvez com o tempo o impresso suma” declara a diretora.

Para a professora e coordenadora Priscila Perazzo, da USCS, a realidade não é diferente, uma vez que no século XXI as buscas e intensidade de ensino precisam estar ligadas à realidade de pesquisa que os jovens enfrentam. “No meio didático é mais que urgente que os livros desapareçam da forma impressa, porque o impresso na sala de aula é inútil, os alunos não usam mais. Não adianta querer trabalhar com os alunos hoje como era trabalhado no século XX, sendo que os do século XXI buscam mais o digital”, revela Priscila.

Para o estudante Gabriel Pirahy seus estudos não seriam influenciados na ausência dos impressos. “Não vejo grande diferença. As únicas influências são por pura preferência. Na ausência de um livro físico, faria o mesmo com o digital”,  argumenta.

Mesmo com a grande influência do modo digital, muitos jovens não abrem mão de seu acervo pessoal de livros na estante e dizem gostar da experiência sensorial que podem ter através dos títulos impressos. Para Pedro Canfora, as histórias em quadrinhos nos livros são muito melhor vistas do que no e-book, por exemplo, pois no aparelho o trabalho criativo tem algumas limitações.

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